O Laboratório de Cultura, Informação e Público (LaCIP), sediado no Departamento de Biblioteconomia e Documentação (CBD) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), reúne docentes, discentes e especialistas externos para desenvolver pesquisas e atividades nas áreas interrelacionadas da Cultura, Informação e Público.
Seu potencial para o engrandecimento da área de Informação em Arte é amplo, como ficou claro na entrevista concedida pelo bibliotecário, escritor e professor Luís Milanesi para a bibliotecária Caroline Brito.
Caroline Brito: Quando foi criado o Laboratório de Cultura, Informação e Público (LACIP) e como nasceu a ideia de sua criação?
Luís Milanesi: O LACIP foi criado em agosto de 2011 no Departamento de Biblioteconomia e Documentação – hoje Departamento de Informação e Cultura. O motivo maior de sua criação foi a percepção de um campo de estudo promissor. A Biblioteconomia em suas bases tradicionais perdeu espaços e a tal ponto que a perspectiva de extinção passou a ser considerada. Se vivemos na era da Informação seria um paradoxo que a Biblioteconomia, que forma e gradua profissionais dessa área, perdesse espaços.
Temos, sim, uma vastidão para explorar – ainda que os cursos de Biblioteconomia e a pós-graduação derivada dela insistam num conteúdo que está se diluindo rapidamente. Um desses campos promissores situa-se nas relações informação-cultura. A gênese é clara: a partir da “ação cultural” em bibliotecas chegou-se à interseção desses dois grandes campos. A partir dela é possível trabalhar com a biblioteca escolar e infantil, pública e universitária.
Foi isso que nos motivou a formalizar dentro da USP o novo campo. O objetivo é a produção de pesquisas, a disseminação dos resultados, o ensino por meio da extensão, bem como a realização de atividades práticas nos vários cenários brasileiros.
Caroline Brito: Quais os projetos que estão sendo desenvolvidos no momento pelo Laboratório?
Luís Milanesi: No momento está sendo realizado o Curso de Especialização “Cultura: Plano e Ação”, destinado a formar recursos humanos para as secretarias de cultura. Os docentes são de três departamentos da Escola de Comunicações e Artes e especialistas que atuam em outras instituições. O próprio perfil do curso pede uma interdisciplinaridade cuja prática é relativamente nova. Isso dá um caráter experimental ao Curso.Temos 28 alunos de quatro estados, a maioria responsável pela área da cultura em seus municípios.
Caroline Brito: Como são pensados os temas para os eventos (cursos, seminários, congressos, workshops e exposições)?
Luís Milanesi: A escolha do que fazer resulta do diálogo entre o “necessário” e o “possível”. Detectamos o que é necessário por meio do diálogo constante com os que atuam na área cultural. O quadro de recursos humanos é heterogêneo, abrangendo profissionais de vários campos e com níveis diversos de formação. Mas há uma constante: poucos têm formação mais direcionada para o campo cultural. Nos últimos anos, por força dos contingenciamentos orçamentários, a cultura integrou-se a outras áreas, como turismo, esporte, lazer… Tradicionalmente, a cultura estava na área da educação. A maioria das prefeituras entendeu que a cultura deveria ser anexada ao turismo. Nesse caso, raramente o secretário é da área cultural. Além disso, há uma alta rotatividade nos cargos, tornando a formação mais difícil. Mesmo assim, ajustados aos objetivos da universidade, procuramos atender a demandas claras que oscilam entre “eu não sei fazer um orçamento” a “não tenho ideia do que seja cultura”.
O Curso de Especialização “Cultura: Plano e Ação” nasceu dessas variadas demandas. É possível que tenhamos de persistir na tarefa de suprir as maiores deficiências, mesmo que seja difícil para nós. Um outro fator que condiciona as nossas escolhas é o financeiro. Os cursos têm custos e as universidades mal cobrem o ensino de graduação. Quando se trata de curso de extensão os custos aumentam, pois é preciso contratar professores, dispor de infraestrutura… As prefeituras raramente se dispõem a investir na formação de recursos humanos. Portanto, as nossas escolhas são feitas em meio a condicionantes.
Caroline Brito: Como se dá a prestação de assessoria a entidades públicas e privadas? Seria possível relatar alguma experiência que considere interessante?
Luís Milanesi: Até esse momento, não apareceu interessados solicitando assessoria, mas isso vai ocorrer. Estamos construindo um projeto que exige parceria pública: “A biblioteca pós-Gutenberg”, uma tentativa de criar um modelo de informação pública que poderá suceder a biblioteca municipal que existe. É um projeto gigantesco e complexo que exige o concurso de especialistas de vários campos. Como sempre, estamos correndo atrás de recursos.
Caroline Brito: Poderia destacar dificuldades encontradas pelo grupo para o cumprimento de seus objetivos e desenvolvimento de suas atividades? Acredita que o trabalho em rede ajuda a minimizar tais obstáculos?
Luís Milanesi: Pelas respostas anteriores fica bem claro que o problema maior é a incapacidade – ou incompetência – para buscar recursos. Se captam recursos para tantos projetos, precisamos encontrar os meios de fazer o mesmo. Enfrentamos desde a efetiva escassez de recursos até os parecerista que têm razões que a própria razão desconhece. Penso que precisamos aperfeiçoar a nossa capacidade de correr atrás de recursos. É um paradoxo, mas são raros os especialistas do campo da cultura que demonstrem interesse por captação. Aliás, um curso sobre o assunto talvez seja necessário.
Creio que não há mais trabalho que não seja em rede – em diversos níveis. O que importa garantir é o desejo de conhecer, experimentar e avaliar todas as possibilidades de estudar o que não sabemos, ensinar o que sabemos (ou, pelo menos, o que pensamos que sabemos) e oferecer todos os resultados à coletividade – o que é próprio de uma Universidade Pública.
Mais informações sobre o Laboratório de Cultura, Informação e Público (LACIP) podem ser encontradas em: http://www2.eca.usp.br/lacip/
Colaboradora: Caroline Brito de Oliveira
É Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense (2012). Possui pós-graduação Lato Sensu em Gestão Empresarial pela Universidade Cândido Mendes (2009). Graduada em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal Fluminense (2007). Foi Professora Substituta do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense – UFF. Atualmente é bibliotecária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES.